Com base na minha minha extensa experiência como ortopedista especialista em patologias do ombro, uma das perguntas mais frequentes que recebo de meus pacientes é: “Doutor, Thiago, quebrar a clavícula é grave?”.
Após anos tratando dezenas de casos, posso afirmar que a resposta depende de diversos fatores que avalio cuidadosamente em cada situação.
Embora possa assustar em um primeiro momento, é uma lesão comum. Se você tem essa preocupação, vou explicar quando a fratura de clavícula é grave, quais os riscos, sintomas e como funciona o tratamento.
O que é a clavícula?
A clavícula conecta o tórax ao braço e ajuda a manter a posição correta do ombro. É um osso fino, curvo, que fica logo abaixo da pele.
Por ser mais exposta e não ter muita proteção muscular, ela é vulnerável a impactos.
A importância da clavícula vai além de sua função estrutural: ela é responsável pela largura dos ombros e pela articulação do corpo com os membros superiores.
Sem uma clavícula íntegra, o ombro perde sua base firme, comprometendo significativamente a mobilidade e força do braço.
Por que a fratura da clavícula é comum?
Quedas sobre o ombro, acidentes de trânsito e pancadas durante esportes estão entre as principais causas.
O impacto direto transfere toda a força para a clavícula, que pode se romper facilmente, especialmente no terço médio do osso.
Como saber se a clavícula está quebrada?
Os sintomas mais comuns de clavícula quebrada são:
- Dor intensa na região da clavícula, que piora com movimentos do braço.
- Inchaço e hematomas na área afetada.
- Deformidade visível ou protuberância sob a pele.
- Dificuldade para movimentar ou levantar o braço.
- Crepitação ou sensação de estalidos no local.
- Ombro caído ou desnivelado.
Muitos pacientes relatam ter ouvido um “estalo” no momento da lesão, o que frequentemente confirma a suspeita de fratura.
Tipos de fratura da clavícula
Fratura do terço médio
Esta é a localização mais comum, representando cerca de 80% dos casos. São fraturas que geralmente ocorrem por trauma direto, como acidentes de trânsito ou quedas sobre o ombro.
Fratura do terço lateral
Representa cerca de 15% dos casos que atendo. Essas fraturas são mais desafiadoras para o tratamento, principalmente quando há lesão do ligamento coracoclavicular.
Fratura do terço medial
São menos frequentes, representando menos de 5% dos casos. Geralmente estão associadas a outras lesões e requerem avaliação mais cuidadosa.
Quebrar a clavícula é grave?
Na maioria das vezes, quebrar a clavícula não traz risco imediato à vida, mas algumas fraturas de clavícula podem ser mais graves e exigem maior atenção.
Considero uma fratura grave quando apresenta:
- Fraturas expostas com rompimento da pele.
- Deslocamento significativo dos fragmentos ósseos (maior que 2 cm).
- Encurtamento importante do comprimento da clavícula.
- Lesões associadas a nervos ou vasos sanguíneos.
- Fraturas em pacientes idosos com fragilidade óssea.
Como é o diagnóstico?
O diagnóstico geralmente é evidente pela presença de dor e deformidade sobre a clavícula, consistindo em:
- Exame físico detalhado, avaliando sensibilidade, dor e inchaço.
- Radiografias simples em duas incidências para confirmar a fratura.
- Tomografia computadorizada quando necessário para melhor caracterização.
- Ressonância magnética apenas quando suspeito de outras lesões associadas.
Como tratar uma clavícula quebrada?
O tratamento pode ser clínico, com tipoia por 4 a 8 semanas, ou cirúrgico, dependendo do tipo de fratura, do alinhamento dos fragmentos, idade e atividades do paciente.
Em casos mais leves, a imobilização costuma resolver. Já quando há desvio maior que 2 cm, fratura exposta, lesão da pele ou outras fraturas, pode ser indicada cirurgia com placa e parafusos.
Cirurgia na fratura de clavícula
A cirurgia é feita para alinhar corretamente o osso, diminuir o risco de não consolidação e permitir retorno mais rápido às atividades.
O método mais usado é a fixação com placa e parafusos. A recuperação costuma ser boa e o risco de complicações é baixo.
Complicações possíveis
As complicações mais comuns são alteração de sensibilidade na pele, desconforto com o material de fixação, infecção ou, raramente, não consolidação (pseudoartrose).
Quando há dificuldade para o osso colar, pode ser necessário novo procedimento cirúrgico.
Quanto tempo para recuperar?
A maioria das fraturas de clavícula consolida entre 12 e 16 semanas. A fisioterapia é importante após a retirada da tipoia ou da cirurgia, ajudando a recuperar os movimentos e força do ombro.
Dicas para uma boa recuperação
- Respeite o tempo de repouso.
- Siga as orientações médicas.
- Mantenha uma alimentação equilibrada, rica em cálcio e vitamina D.
- Não pule as sessões de fisioterapia.
- Retorne gradualmente às atividades.
Conclusão
Após anos de experiência tratando fraturas de clavícula, posso afirmar que a maioria dessas lesões não é grave quando adequadamente diagnosticada e tratada.
Em minha prática, cerca de 80% dos casos evoluem bem com tratamento conservador.
A gravidade depende principalmente de fatores como localização da fratura, grau de deslocamento, idade do paciente e presença de lesões associadas.
O importante é que os pacientes compreendam que, com o tratamento adequado e adesão às orientações médicas, a grande maioria retorna completamente às suas atividades normais.
O essencial é não negligenciar o problema e buscar atendimento médico especializado precocemente para uma avaliação adequada e início do tratamento mais apropriado.
FAQs
Quebrar a clavícula pode trazer sequelas?
Em geral, a recuperação é completa. Alguns casos podem deixar leve diferença no formato do ombro ou sensibilidade, mas limitações duradouras são raras.
É preciso operar sempre?
Não. A maior parte dos casos se resolve sem cirurgia. A operação é indicada quando há grande desvio, exposição óssea ou dificuldade de cicatrização.
Quanto tempo preciso usar tipóia?
Em média, de 4 a 8 semanas. O tempo exato varia conforme o tipo de fratura, idade e evolução da consolidação.
A clavícula quebrada pode não colar?
Em raros casos, pode ocorrer retardo de consolidação ou pseudoartrose, principalmente em tabagistas, diabéticos ou em fraturas muito desviadas.
Depois de curada, posso voltar a praticar esportes?
Sim. Após liberação médica e reabilitação, é possível retornar às atividades físicas normalmente.